quarta-feira, 30 de julho de 2008

Nos braços de Iemanjá


Andando pelas areias de alguma praia, em um ano qualquer, e num século ainda por vir, ela pôde enfim se escutar. Pois o mar é seu único porto e as ondas fazem lembrar o ventre de sua mãe. E sua mãe era linda. Tinha uma pinta do lado esquerdo da boca e um olhar firme que metia medo e também se podia confiar. O mar era como sua mãe e lá ela podia chorar e num soluço desesperado podia despejar todo seu desejo disperso e aquela ânsia de se completar.
Mesmo sabendo que na vida é preciso coragem para se encarar, ela congelava todas as cenas apaixonadas dos filmes e rasgava as páginas dos livros em que os amantes se separavam e sonhava com o encontro perfeito. Ela amava o amor. Se entregava somente na paixão. Gozava por um amor narcisista, doente, que ela considerava puro.
A lua crescente e amarela engolia o mar e essa mulher se derramava na areia e deixava que o mar lhe segurasse. E assim foram seguindo os dias, as noites, as tempestades e ela apaixonada, mais uma vez. Mas dessa vez era pelo mar, pela sua mãe, pelo seu próprio coração.

3 comentários:

Anônimo disse...

Linoca: conhecer você foi um dos grandes presentes de 2007/2008. Você é linda, como o mar e como esta imagem que ilustra este belíssimo conto. O conto lembra até o estilo da minha escritora favorita: Clarice Lispector, sabia? Você leu "Perto do Coração Selvagem"? Caso não tenha lido: leia. Agora! É lindo e tem essa passagem da personagem principal, Joana, com o mar. Desejo que nossa amizade cresça a cada dia. beijos

Anônimo disse...

Tudo que vem do mar é legal; e tua poesia tem esse tempero, esse cheiro, esse gosto de sal.

Adorei mergulhar nas ondas de sua poesia.

Parabéns. Um beijo. Jura.

Anônimo disse...

Iemanjá apresenta-se logo com um tipo inconfundível de beleza. No seu reinado, o fascínio de sua beleza é tão grande como o seu poder. Ora é de um encanto infinito, de longos cabelos negros, de faces delicadas, olhos, nariz e boca jamais vistos, toda ela graça e beleza de mulher.
Outras vezes, Iemanjá continua bela, mas pode apresentar-se como a Iara, metade mulher, metade peixe.
Que semelhança,que sincronismo!!!Assim como ela você tem graça, malemolência, mas ao mesmo tempo é impetuosa, brava, as vezes nervosa, mas possui um coração grandioso.
Foi por isso que na primeira vez que me parou no corredor para falar do meu sorriso, me rendi, a essa menina mulher, que muito admiro.
Odô-fe-iaba! Odô-fe-iaba! Odô-fe-iaba!
Leca